Quem vê Ana Dalva vestindo a camisa do projeto Juntos pelo Desenvolvimento, sentada em uma das cadeiras do plenário da Câmara Municipal de João Pessoa, à espera de uma audiência pública sobre o saneamento na cidade, nem imagina a transformação pela qual ela passou nos últimos anos. Afinal, a micro empresária nem de longe lembra a mesma mulher que, anos atrás, começou a participar das atividades da Casa Pequeno Davi, um dos parceiros locais da CU Brasil. “Eu era totalmente sem informação, não conseguia falar com as pessoas, não me aproximava dos outros, tinha medo”. E hoje?
Bom, hoje a realidade de Ana Dalva é outra, apesar dos obstáculos continuarem se colocando no meio do caminho. Seus olhos marejam quando lembra a violência que sofreu do primeiro marido durante a gravidez, da separação aos 16 anos com dois filhos para criar, sem estudo e sem profissão. Até que ela encontrou nas ações do projeto uma possibilidade nova. Ana Dalva descobriu que, junto com outras mulheres como ela, pode mudar sua comunidade, no Roger, onde mora, e sua vida.
Juntas, elas estão conhecendo seus direitos, discutindo os problemas do bairro e, com muito diálogo, já conseguiram fazer com que a prefeitura realizasse melhorias na unidade de saúde que atende a região, conquista comemorada por todas. Agora as mulheres podem fazer exames citológicos perto de casa, por exemplo, o que era impossível na estrutura antiga. Seus filhos também podem ser vacinados em espaço limpo e livre de contaminação.No começo, confessa, tinha dificuldade para entender as coisas, mas depois foi se sentindo parte da ação e compreendendo como poderia contribuir. “Eu me sinto uma peça-chave na comunidade, sei que tenho o papel de contribuir na fiscalização do que o poder público faz, já que as autoridades estão lá porque fui eu e meu voto que as colocaram neste lugar”, observa.
Ana Dalva avalia que até nas fotos se vê diferente hoje. Pudera: ela terminou seus estudos, montou um salão de beleza, vende cosméticos, se cuida e trata bem melhor seus filhos, que também foram vítimas de sua baixa auto-estima na infância. Ela conta que “tinha pouca paciência com as crianças, não sabia lidar com elas porque era uma pessoa infeliz”. Hoje, trocou a palmada pelo diálogo e tenta, dessa forma, mantê-los longe da violência que assola seu bairro. “Eles dizem que sou uma guerreira”, comemora.